Monstros

Vol. I Por Isaac Nihilus Seixas

Um apanhado dos seres mais lendários e evasivos do folclore de toda a região de Rostos, pelo escritor, historiador, filósofo e aventureiro, Isaac Nihilus Seixas Criaturas Lendárias de Rostos

Aigamuxa: É de conhecimento geral que o Deserto de Pedras é lar de criaturas sombrias e perigos ocultos, mas poucos fora de Sila conhecem sobre o Aigamuxa, criatura lendária cuja história é usada para assustar crianças e viajantes. As histórias falam sobre uma criatura enorme, de aparência humanoide, que vaga pelo deserto a noite, caminhando lentamente à procura de comida. Seu corpo cinzento possui garras afiadas em suas mãos e pés e em seu rosto só é possível ver uma boca com dentes extremamente alongados. A principal característica dessa criatura, porém, é a presença de olhos nas plantas dos pés, o que significa que ele não pode ver suas presas a menos que esteja apoiado nas mãos ou deitado no chão e, por causa disso, as lendas dizem que o Aigamuxa só sai para caçar durante a noite, evitando o contato com o chão quente e atacando vítimas desprevenidas, como em acampamentos, por exemplo. Não se tem relatos concretos sobre encontros com uma criatura dessas, e sua existência é tida apenas como uma história de terror. Ainda assim, durante a prova do Lagarto Azul, tradição milenar dos Nazinmo de Sila, um povo extremamente forte e acostumado às intempéries do Deserto de Pedras, alguns grupos inteiros jamais são vistos novamente

Tigbauan: Famosa por seus mistérios e por suprir os Nazinmo, a Floresta Ostatni é lar de criaturas perigosas e desconhecidas da população em geral. Dentre elas, uma das mais terríveis é, sem dúvidas, o Tigbauan. Esse ser aterrorizante é descrito como uma criatura alta, magra, de braços e pernas longos, com a pele recoberta com o que parece ser musgo, lama e folhagens. Os Tigbauan não possuem olhos e, no lugar deles, existe apenas um grande buraco vazio. As histórias falam ainda que esse ser possui uma boca disformemente grande e que suas feições fazem parecer que está sempre sorrindo. Coincidentemente ou não, produzem sons estridentes que se assemelham muito com a risada humana. Sobre os hábitos dos Tigbauan, as lendas contam que essas criaturas costumam viver em cavernas ou pântanos no interior da floresta, e saem em pequenos bandos para caçar, utilizando da sua aparência para se mesclar ao ambiente e de seu olfato e audição apurados para localizar suas presas. Existem algumas poucas pessoas que afirmam terem tido contato com esses monstros e que ainda estão vivas. O elemento comum nas histórias de todas elas é que todas estavam acompanhadas por cachorros. Aparentemente, por qualquer que seja o motivo, os Tigbauan não se aproximam dos nossos amigos caninos e, por conta disso, muitas caravanas que atravessam a Floresta Ostatni costumam ter pelo menos um cão entre seus integrantes.

Qilin: Assim como existem exemplares benignos e malignos em todas as várias raças presentes no continente, o mesmo se dá com as criaturas mitológicas que habitam o imaginário popular. É certo dizer que a variedade de criaturas malignas costuma ser muito maior, mas, para contrabalancear esse fato, existe a lenda do Qilin. O Qilin é uma criatura quimérica capaz de viver por milênios. Sua descrição consiste em: cabeça de dragão, cascos de cavalo, corpo de cervo, cauda de touro, dorso de penugem colorida, ventre de pelos amarelos, boca que cospe fogo e voz de trovão. Apesar da aparência imponente e assustadora, os Qilin (Qi para machos e Lin para as fêmeas) são seres dóceis e pacíficos que, mesmo possuindo os meios, nunca atacam seres humanos ou outros animais. Há quem diga que os Qilins são tão amáveis que se recusam a pisar em insetos ou mesmo gramíneas, e que sequer se alimentam de vegetais vivos. Acredita-se que ele vive nas profundezas da floresta Ostatni e só pode ser visto em tempos de paz, o que explicaria a ausência de qualquer relato recente sobre esta criatura, visto que os Nazinmo e os orcs travam embates a séculos e a tormenta há muito assola o continente. Há aqueles mais devotos que associam a presença ou a simples existência dos Qilin como um presente ou um sinal de boa graça dos deuses, principalmente Allihanna, Lena e Marah, ou ainda como uma bênção conjunta das três, e diz-se que avistar um Qilin é um sinal de boa fortuna e prosperidade.

Mahaha: O Mahaha é uma criatura humanoide que, dizem, vive no lago gelado próximo à cidade de Sila, habitando tanto as partes mais profundas quanto as regiões costeiras mais distantes e pouco visitadas. Sua pele, ligeiramente escamosa como a de uma Sereia ou Tritão, possui uma cor azul escura, mas não tão escura quanto seus cabelos longos, de um azul tão escuro que se aproxima do preto. Seus olhos não possuem íris e, contrastando com o resto do corpo, são totalmente recobertos de um azul claro vívido e até brilhante, já que alguns dizem ser possível vê-los se mexendo na escuridão da noite. Além disso, possui garras longas e afiadas e um sorriso sádico e cruel. Os supostos avistamentos o tratam como uma criatura solitária e, ainda que cruel e voraz, estúpida. Os Nazinmo contam histórias de que uma forma indolor de escapar de um Mahaha é simplesmente engana-lo de alguma forma, e uma história mais específica diz que um aventureiro conseguiu escapar fazendo com que, primeiro, o monstro se curvasse de costas para beber da água do lago, o empurrando na água em seguida para, por fim, correr enquanto ele se recuperava. Isso me leva a crer duas coisas: os Mahaha, se existirem, possuem inteligência acima da de bestas animalescas (apesar da visível ignorância e ingenuidade) e, muito embora sejam hostis, atacando os incautos por comida ou para defender seu território, não são ávidos para prosseguir com a contenda uma vez que tenham sido superados.

Ruhên Darê: Os Ruhên Darê são espíritos das árvores tidos como presentes em todas as florestas de Rostos, habitando geralmente as partes mais intocadas da mata. Manifestam-se na forma de faces aparecendo nos troncos ou folhas das plantas, mas diferentemente das dríades e ninfas da floresta, não podem sair da árvore em que habitam. Em geral, são tidas como pacíficas, e as únicas “maldades” atribuídas a estes seres são confundir aqueles que andam por seu território, fazendo com que se percam, e, ocasionalmente, assustar as pessoas que se aproximam demais, aparecendo repentinamente. Porém, mesmo essas criaturas aparentemente tranquilas podem representar grande ameaça para mulheres desavisadas, pois algumas poucas histórias sugerem que, de algum modo místico ou mágico, os Ruhên Darê são capazes de engravidá-las e que, inclusive, seriam um dos responsáveis pelo surgimento da raça Dahlan. Portanto, aqueles que conhecem essa versão da história sempre aconselham mulheres a não adentrarem florestas sozinhas durante a noite, especialmente em épocas de lua nova.

Vampiermot: Lendas de criaturas míticas costumam se passar no interior de florestas abandonadas ou outros cantos remotos do rainado, onde há pouca ou nenhuma civilização, o que corrobora com a raridade de tais seres. O Vampiermot não é uma delas. Este ser, tão hediondo e assustador quanto pequeno, tem sua presença mais fortemente disseminada nos grandes centros urbanos de Srodek e Vivifica. O Vampiermot é uma criatura alada, semelhante a um morcego, com alguns traços humanoides, mas de tamanho inferior ao de uma mariposa. Se alimenta de sangue humanoide e utiliza da escuridão e calmaria da noite para procurar suas presas. Por conta de seu tamanho reduzido, consegue se camuflar em peças de roupa e cabelos, sendo as grandes cidades o habitat ideal para esses parasitas. Dizem que qualquer um que esteja servindo de alimento para um Vampiermot ficará mais pálido e abatido durante dias, mas a menos que possua alguma enfermidade, se recuperará pouco tempo depois que ele for embora. Entretanto, de acordo com as lendas, um Vampiermot pode ficar se alimentando de um mesmo hospedeiro durante dias sem que ele perceba. Os mais vulneráveis ao ataque de um Vampiermot são os recém nascidos e outros seres de tamanho reduzido, pois essa criatura seria capaz de beber todo o sangue da vítima. Além disso, eles às vezes são considerados os culpados por abortos, já que sua língua alongada, semelhante a uma tromba, seria capaz de penetrar discretamente o umbigo das mulheres grávidas e sugar o sangue da criança ainda no útero de sua mãe.